sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Medo: a mais poderosa arma para a dominação



Completando as palavras de Mia Couto: temos medo de falar o que pensamos, temos medo de parecer ridículo/a ou parecer inferior ao expormos nosso modo de pensar, principalmente se este modo for muito diferente dos demais modos, temos medo de errar, e temos mais medo ainda de sermos flagrados/as errando. Talvez por isso o medo em deixar registrado em blogs de discussão suas convicções? Medo de ter que, talvez, mudá-las?
Após essa provocação introdutória, abrimos essa postagem para discutir sobre o medo e as relações etnicorraciais. Em postagem anterior citamos Miriam Chnaiderman que afirmava que o racismo era uma reação ao medo. Desta vez, trazemos para dialogar conosco Cheick Anta Diop que explora ainda mais essa questão do medo no entendimento do racismo. Nos diz Diop: 
"Eu acredito ser o racismo uma reação ao medo, mais frequente quando não confesso. O racista é alguém que se sente ameaçado por alguma coisa ou alguém que ele não pode ou consegue controlar. [...] Negros não são racistas. Negros não têm medo de contatos étnicos. Brancos sim ! Eu acho que em grande medida o racismo se origina deste medo. [...] O que é bastante evidente, contudo, é que esta xenofobia é, definitivamente, um traço entrincheirado das culturas européias. [...] De fato, ocorre que, uma das fraquezas das civilizações negras, particularmente durante o tempo medieval, foi a abertura, o cosmopolitismo destas sociedades. Os reinos negros medievais estavam abertos para pessoas de todos os lugares. E, hoje, uma das fraquezas básicas das sociedades africanas é que elas ainda mantêm esta características cosmopolita herdada. Nacionalismo na África emergiu como um reflexo puramente defensivo. Nacionalismo estreito, xenofobia, exclusão de estrangeiros nunca foi uma política das culturas africanas. Sempre encontramos isto associado a culturas indo-européias."
Bem, poderíamos continuar citando e citando Diop, que preenche toda a lacuna que temos dessas versões da história da humanidade. Sempre aprendíamos que a população branca europeia era a corajosa e forte, e por isso dominava a negra e a escravizava. Diop dá uma outra interpretação para esse fato histórico (a dominação europeia): a fraqueza do povo africano estava (e está) justamente na ausência do medo de partilhar, de se relacionar com o Outro.
É um tipo de fraqueza defendido nos discursos pedagógicos, quando se enfatiza a importância do Outro na construção de conhecimento, mas que, infelizmente, poucos/as tem colocado em prática.

Por Poliana Rezende


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Representantes de Instituições Não Governamentais do Brasil que lutam contra o racismo e defendem a equidade de gênero participam da 66ª da ONU. Para as brasileiras a ONU precisa dar maior atenção ao combate do racismo na América Latina

A necessidade de uma atenção maior ao problema da mulher negra na América Latina será levantada por representantes da organização não governamental (ONG) Geledés - Instituto da Mulher Negra, que participam hoje (22), em Nova York, da reunião de alto nível sobre os dez anos da Conferência de Durban. A reunião faz parte dos debates da 66ª sessão da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
Nilza Iraci, uma das representantes da ONG foi a escolhida para representar as mulheres brasileiras no encontro. Em entrevista à Agência Brasil, ela disse que aproveitará o tempo para lembrar que as mulheres negras estão na base da pirâmide social, não só no Brasil, mas nos demais países da América Latina e do Caribe. Segundo ela, racismo e sexismo andam juntos na região e precisam ser enfrentados pelos governos.
"Racismo e sexismo andam juntos e sem essa consciência não se resolve a questão", disse Nilza. Para ela, é preciso lembrar que no caso da mulher negra, na região, há uma dupla vitimização. "Basta olhar a base da pirâmide social no Brasil. São as mulheres negras que recebem os menores salários, que não têm acesso aos serviços de saúde de qualidade. Há um conjunto de situações que afetam, especialmente, a vida das mulheres negras", destacou.
Nilza Iraci terá cerca de três minutos para falar. Também está previsto na reunião um discurso da ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).
Para as mulheres, o que se espera do discurso da ministra é a garantia de que o Brasil continuará enfrentando essa questão com prioridade, com o fortalecimento da Seppir e da Secretaria de Políticas para as Mulheres, comandada pela ministra Iriny Lopes. "Essas secretarias são referência e devem servir de exemplo para os demais países da América Latina e do Caribe.
No discurso de abertura da Assembléia Geral da ONU, feito ontem (21), a presidenta Dilma Rousseff citou a questão racial e de gênero, de forma geral. Para a representante da ONG Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea) Guacira Oliveira é esperada na fala de Luiza Bairros a reafirmação do compromisso de continuidade e incremento das políticas voltadas para esse público.
Outro ponto polêmico, em que se espera uma política mais eficaz, é a questão da violência. Os assassinatos de negros ainda são muito maiores. "No Brasil, o problema da violência é permanente e muito grave", enfatizou Guacira, que está em Nova York para a reunião.
Ela defendeu também maior compromisso da ONU na resolução de conflitos étnicos. "Os recursos das agências para a questão da igualdade ainda são ínfimos. Existem muitas guerras étnicas, mascaradas de guerras religiosas, que precisam ser resolvidas", disse.
A Conferência de Durban, em 2001, tratou de todas as formas de discriminação, racismo e xenofobia. O Brasil desempenhou papel de protagonista no encontro e, depois, na implementação de políticas raciais. A reunião de hoje tem o objetivo de homenagear os dez anos da conferência e, ao mesmo tempo, avaliar os esforços feitos pelos países desde então e os avanços obtidos.