terça-feira, 22 de junho de 2010

V SEMANA DE HUMANIDADES UEPB GUARABIRA - MESA REDONDA "DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO"

Durante os dias 24 a 28 de maio de 2010 estivemos participando da V Semana de Humanidades da Universidade Estadual da Paraíba, em Guarabira, onde professores e estudantes de todos os cursos do Campus participaram na organização e desenvolvimento do evento, garantindo o sucesso expresso na superação da estimativa de 400 para mais de mil inscritos.

O evento proporcionou a nós, do GEINCOS, uma experiência significativa em que vários aspectos merecem nosso destaque: a organização do evento, a recepção e hospitalidade da Universidade e da cidade, os espaços para troca e discussão de temáticas pertinentes, os momentos de aprendizagem e aperfeiçoamento de conhecimentos.

O evento envolveu uma diversidade de temas que atenderam a variados interesses e áreas do conhecimento, oferecendo mesas redondas, palestras e mini-cursos dos mais diversos assuntos.

Na mesa redonda “Direitos Humanos e Educação”, na qual escolhemos participar, interagimos com estudantes de Direito da UEPB, discutindo sobre a temática das Cotas Raciais em que pertinentes questões foram levantadas e debatidas em relação aos caminhos e entraves da Política de Ações Afirmativas. Na ocasião, nenhum(a) participante se colocou decididamente contrário às cotas, porém, muitas críticas foram colocadas como: as cotas deveriam ter prazo estipulado; as cotas poderiam causar um relaxamento nos estudantes das escolas públicas, as cotas não deveriam ser apenas raciais, as cotas deveriam vir acompanhadas de outras políticas que atuem nas causas dos problemas, a militância pró-cotas deveria reivindicar (e focar) ensino técnico de qualidade e não apenas universidade.

Apesar de termos em nossas respostas uma postura defensiva, pois bastava dizer que lutamos por cotas para incluir negros nas universidades, uma vez que os dados do IBGE revelam a gritante contradição em que, um país que vive numa suposta democracia racial e que possui quase metade da população de negros, não chega a 1% o número de estudantes negros no ensino superior, para esclarecimento, é preciso que seja dito: as pesquisas mostram que o desempenho dos cotistas não é inferior ao dos demais estudantes. Se por um lado acredita-se que as cotas levariam os estudantes candidatos às cotas a um relaxamento, existe uma outra linha de pensamento que espera que os mesmos estejam mais motivados a estudar por terem, com as cotas, uma oportunidade antes não vislumbrada. As outras políticas sugeridas pelos participantes da Mesa já existem e, aliás, vieram antes das cotas. O Movimento Negro, desde sua acepção já reivindicava escola pública de qualidade para a população negra, assim como reivindicou saúde pública especial para a população negra, no entanto, estranhamente, essas lutas não foram polemizadas pela mídia, só as cotas.

Quanto a última sugestão colocada no debate, nossa reflexão é: o que se quer dizer ao sugerir que devemos lutar por ensino técnico, numa época em que só a graduação não está mais sendo suficiente para a competição posta pelo mercado de trabalho?; o que se quer defender ao sugerir que o foco de nossa luta não deve ser o ensino superior, uma vez que os dados mostram o quanto essa instituição tem apresentado dados que justificam nossa ânsia na defesa por um espaço negado durante décadas? Algumas questões são colocadas diante de tal sugestão: qual o objetivo do ensino técnico e qual o objetivo do curso superior? Será que, ao sugerir a militância da população negra a lutar por ensino técnico, não se está reforçando a ideia hegemônica de que os negros devem servir apenas aos trabalhos braçais enquanto a elite branca é que deve estar dirigindo e pensando o país? É contra essa realidade hegemônica, persistente ainda hoje, que as cotas vêm combater, pois não se quer apenas o negro na Universidade, nem as cotas devem ser um anseio apenas da população negra, afinal, como questionou Munanga quem ganha com as cotas: apenas a população negra ou a sociedade brasileira como um todo? Já está em tempo de interromper o monólogo europeu, afinal, conforme Cunha Junior*, nem a Europa pratica mais esse eurocentrismo obsoleto das Universidades Brasileiras.


Poliana Rezende

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPB

*Palestra "As novas palavras, os novos conceitos e mudança de paradigma na pesquisa sobre população negra"proferida pelo Prof° Henrique Cunha Junior - UFC, promovida pelo GEINCOS na UFPB em junho 2010.