Assim como aconteceu na época das últimas eleições presidenciais em que tivemos o ciberespaço como palco das expressões xenófobas do país, agora, após o concurso Miss Universo 2011 em que uma negra foi a vencedora, vemos novamente cairem as máscaras de brasileiros/as que fazem declarações machistas e racistas em blogs e nas redes sociais como facebook e twitter.
Para nós, pesquisadores/as negros/as, essa situação não causa surpresa, mas espanto sempre causará. O aspecto positivo dessas manifestações racistas e machistas estarem acontecendo e estarem sendo disseminadas é justamente a possibilidade de se abrir a discussão: precisamos discutir sobre o racismo, ele ainda existe sim, estava esse tempo todo escondidinho e controladinho e só quem o percebia eram aquelas "pessoas negras complexadas que viam racismo em tudo". Hoje esse discurso não poderá mais se sustentar. O racismo não é mais camuflado no discurso da piedade, ele é evidente. Se era preciso a presença do ódio para se conseguir enxergar o racismo para algumas personalidades como Ziraldo, os internautas fizeram o trabalho de desmascarar o racismo odioso que o Brasil mantém.
É, sim, uma questão de gosto achar Leila Lopes feia. E o gosto, assim como nosso corpo, é cultural, se aprende assim como se aprende a gostar de comer frutas, como se aprende a se sentar de pernas cruzadas se for menina e a controlar as lágrimas se for menino... Então, esse gosto pode ser modificado, ampliado, transformado. Mas é questão de educação que os "gostos" sejam respeitados.
Vendo a imagem acima de Leila Lopes em que sua beleza vem de dentro também, assim como ela própria declarou, me faz corroborar o pensamento de Miriam Chnaiderman (1996, p. 85): "[...] O que leva ao racismo não parece ser a incapacidade para suportar a diferença, muito pelo contrário, o que leva ao racismo, o que exaspera alguém até torná-lo racista, é ver o diferente tornar-se o mesmo. Ou seja, é ver o outro como muito parecido, e por isso sentir-se ameaçado na sua identidade".
By Poliana
6 comentários:
Pois é já chegou a hora, alias passou da hora, de repensarmos nossos padrões de estética, nosso valores.
Acho interessante olharmo o ciberespaço como um catalizador, ao mesmo tempo tempo de temos (ciber)sujeitos se unindo para reivindicar seus direitos e melhorias p sociedade, por outro lado temos atitudes e declarações discriminatórias e racistas, que como foi bem falado não surpreendem mas com certeza nos chocam sempre!
Ótima postagem Poli. Concordo com você e com Jobson quando afirmar e reforçam a questão dos padrões, principalmente, no que concerne o fator "beleza". Fomos criados e educados em uma sociedade cheia de padrões que excluem o outro por não se encaixar neles e, ainda não assumimos que somos preconceituosos. Irônico, não? Vivemos em um país "multicultural", mas não aceitamos o essa multiculturalidade. Que nós devemos repensar nossas práticas, tenho certeza... mas, nosso discurso também, pois na maioria das vezes ele carrega muito mais do que nossas práticas podem suportar. É triste, principalmente para mim, perceber que as ferramentas tecnológicas aumentaram esses discursos, mas também vejo o quanto podemos utilizar essas ferramentas como força para nossa luta, seja dentro da academia ou fora dela. [b] Esse blog é um exemplo claro!
Pela lente da diversidade a beleza pode ser vista por diferentes pontos de vista. @s racistas, ao contrário, pensam a beleza feminina apenas por um limitado ponto de vista: branca, loir@, de olhos azuis...
Saudações a beleza angolanda de Leila Lopes!!
Do ponto de vista da identidade, podemos esperar algo positivo em relação aos negros, tendo em vista que até então o único referencial que tínhamos era do negro escravo, bandido, pagodeiro, empregada doméstica etc... etc... O fato da Leila Lopes ter sido escolhida como a mais bela pelos jurados, só vem a reforçar que de uma forma ou de outra a questão racial está sendo trabalhada de forma positiva e acredito que o fator mais importante caberá na aceitação do próprio negro. Leila Lopes, mais uma beleza negra!
Eu acho que a reação racista deve ser pura inveja e o medo mesmo. A mulher negra ainda é vista, aqui no Brasil, como objeto sexual. E, ver em Leila Lopes características antes reservada apenas para a imagem vinculada às mulheres brancas como delicadeza, serenidade, inteligência foi uma choque que previsivelmente provocou essa reação conservadora.
Geincianos fico impressionada como nossos Pimpolhos levantam com tanto amor e propriedade a bandeira pela causa etnicorracial. Parabéns!! São estudantes e pesquisadores, exemplos de como podemos construir uma sociedade com atitudes e valores inclusivos. Pensar em nossa cultura, nossas práticas é sermos cidadãos pró-ativos em nossa história.
Postar um comentário